O Brasil, de uma maneira geral está vivendo o fenômeno da estagflação, que nada mais é que a combinação de inflação alta com crescimento baixo. As estimativas gerais da economia das empresas de Bento Gonçalves, no primeiro semestre deste ano, assim como no resto do país, não são boas. A maioria dos setores de produção teve declínio nos faturamentos e os administradores precisaram encontrar meios de evitar prejuízos e não demitir funcionários. A situação difícil ocorre devido à falta de pedidos e afeta também o consumidor final, que está com o poder de compra cada vez menor.
A economista e mestre da Universidade de Caxias do Sul, Monica Mattia, explica por que a economia do município, e de todo o restante do Brasil, chegou a esse ponto.

Monica retoma a crise de 2008 e 2009 para relatar os fatos que se sucederam até hoje. Naquele período, o mundo estava em crise, havia dificuldades financeiras afetando as exportações e os indicadores econômicos da época. Contudo, o governo brasileiro decidiu que era momento de o Brasil crescer para não sentir as dificuldades, já que as empresas que dependiam de exportações teriam um grande declínio no faturamento. “O governo federal adotou medidas econômicas anticíclicas (conjunto de ações governamentais voltadas a impedir, sobrepujar, ou minimizar, os efeitos do ciclo econômico), que consistem no aumento de crédito para as empresas. Por exemplo, as indústrias aqui de Bento ganharam muitas facilidades de crédito por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), podendo fazer investimentos e financiá-los em longo prazo”, destaca.

Outro objetivo das medidas anticíclicas era aumentar o poder de consumo das pessoas, aquecendo as vendas em todos os setores. Com isso, os créditos foram duplicados e liberados sem um grande controle para empresas e pessoas físicas. “Liberaram cartões de crédito para muitas pessoas, havia facilidades de pagamento, lançaram o Minha Casa Minha Vida e a classe média financiou mais do que deveria, comprometendo a sua renda por muito tempo. Além da alta demanda, que fui suprida com muitas importações”, aponta.

Monica ressalta que o problema de quando o consumo cresce sem controle, é que há uma alta também na inflação. “Neste período, o Brasil cresceu mais do que a média mundial, principalmente com a arrecadação do Produto Interno Bruto (PIB), mas isso não pode acontecer porque a conta precisaria ser paga mais tarde”, completa. Segundo ela, nos anos que seguiram, a classe média estava com apartamentos, carros outros imóveis financiados, as indústrias tinham as primeiras parcelas dos financiamentos para pagar e a inflação crescia mais do que o previsto.

Mônica enfatiza que as medidas que foram tomadas pelo governo fizeram com que as pessoas, de alguma forma, ficassem dependentes dele. “Há dois anos, a economia do Brasil já estava dando sinais de que isso iria acontecer, e os municípios seriam afetados quando as indústrias começassem a perder o faturamento. No entanto era um momento bom, de investimentos e crescimentos então não foi pensado nas consequências”.

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