A situação de vulnerabilidade de cães e gatos e a longa fila para castrações foi tema da audiência pública realizada na noite de terça-feira, 20, na Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves. Organizado pelo gabinete do vereador Moacir Camerini (PDT), o encontro discutiu alternativas para a cidade, ouviu relatos de Organizações Não Governamentais (ONGs), voluntários e protetores independentes da causa animal, relacionados a casos de maus tratos e problemas financeiros enfrentados pelos mesmos, além de possíveis soluções a serem desenvolvidas com relação a cuidados, controle populacional e abandono.

Durante o evento, a coordenadora da Vigilância Ambiental do município, Simone Menegotto, a ativista e ex-vereadora de Porto Alegre, Lourdes Sprenger e a veterinária Natalia Piva, ressaltaram a necessidade da criação de políticas públicas mais eficazes para solucionar as diversas situações existentes na cidade.

De acordo com Lourdes, diariamente é possível perceber a presença crescente de animais pelas ruas, sobretudo nos bairros. Além de um problema de falta de atenção e cuidado para com os cães, gatos e outras espécies, como os cavalos utilizados para trabalho, existe ainda a questão preocupante de saúde pública, uma vez que sem o controle adequado pode acorrer a proliferação das doenças transmitidas por animais aos seres humanos. Segundo a ativista é preciso haver “uma mobilização coletiva, especialmente dentro do Poder Público”.

Com experiência vivida no Legislativo e Executivo de Porto Alegre, Lourdes disse que quando foi criada a Coordenadoria em Defesa dos Animais na capital não existia a estrutura necessária, porém, a solução foi agrupar técnicos de várias secretarias. “No início de tudo queríamos que o poder público auxiliasse e que a sociedade como um todo não abandonasse os animais e que nós, voluntários continuássemos incentivando a prática. Hoje, esse sentimento perdura, mas, realmente, nós precisamos buscar soluções e ações públicas. Não só na teoria, mas também na prática”, enfatiza.

Conforme Camerini, o debate ajudou a coletar, junto às pessoas envolvidas com a questão, ideias e demandas que subsidiem a criação de futuros projetos em benefício do bem-estar dos animais, entre eles, a criação de um banco de ração para cães e gatos. Ele mencionou a elaboração de uma proposição que visa criar um fundo municipal para proteção, onde os recursos seriam provenientes de multas aplicadas por maus-tratos, as quais seriam denunciadas por meio de um disque-denúncia.

Alternativas são apontadas para amenizar o problema

O alto índice de procriação dos animais de rua também preocupa os ativistas da causa. Uma das soluções viáveis para minimizar a atual situação em Bento Gonçalves, apontada pela médica veterinária Natália Piva, seria a castração de cães e gatos, evitando assim que estes animais continuassem a se reproduzir e, consequentemente, gerar mais abandono. Porém, segundo a profissional, apenas castrar não basta. É preciso antes de tudo educar a comunidade para a guarda responsável e para a necessidade de evitar que seus animais cruzem indiscriminadamente.

A profissional acrescentou a necessidade que cães e gatos esterilizados pela prefeitura sejam devidamente identificados por meio de microchip, que também armazenará os dados completos dos donos em um cadastro junto à prefeitura. “Quando esse animal volta para a rua por conta de um abandono, a gente consegue chegar ao tutor. E tem quer ter punição. Por que este animal está na rua? Qual é a responsabilidade desse tutor em não cuidar dele? Hoje em dia, um animal é resgatado da rua, nós chegamos aos donos e nada acontece. É isso que temos que evitar”, questiona.

A representante da Prefeitura Municipal, Simone Menegotto confirmou a grande fila de espera para a realização dos procedimentos cirúrgicos, porém, ressaltou que o atraso se deve, principalmente, porque apenas uma clínica está inscrita para a realização das castrações. “Há um processo licitatório em andamento para a contratação de mais empresas especializadas no serviço, porém, até o momento, apenas uma clínica se cadastrou para realizar fazer o trabalho. Infelizmente, o local não tem como atender somente os casos que enviamos”, lamenta.

Questões envolvendo o controle efetivo das esterilizações realizadas pela clínica contratada pela prefeitura, a priorização de atendimentos a animais de rua e dos mantidos por famílias de baixa renda e a criação de um banco de alimentos para auxiliar o trabalho dos voluntários foram algumas das demandas apresentadas pela população presente na audiência, que agora deverão seguir para ao órgão competente no município, a fim de buscar alternativas para solucionar os problemas apresentados.