No Brasil a adoção é um processo lento e, muitas vezes, desgastante. O tempo estimado para quem deseja adotar uma criança pode chegar a oito anos. Uma eternidade para ambas as partes, seja para os futuros pais, que se sentem ansiosos e temerosos diante da espera, seja para as crianças, que amargam a carência familiar em abrigos e precisam administrar a solidão e a frustração.

O problema está nas exigências. Os aspirantes buscam recém-nascido, sem problemas de saúde e muitas vezes com distinção de etnia. Isso faz com que o ato seja ainda mais complicado e se arraste ao longo do tempo. A imagem da família feliz, sem relações biológicas, esconde questões que os casais abertos à adoção precisam refletir. Por que não adotar crianças com mais de oito anos ou adolescentes? Por que não adotar uma criança negra? Porque não adotar uma criança que possua algum tipo de deficiência? Algo contrastante com a imagem quase glamorosa da adoção, principalmente quando os meios de comunicação bombardeiam TVs, revistas e sites de fofocas – ou comportamento – com imagens de astros e estrelas carregando seis crianças a tiracolo, chamando de ‘papai’ e ‘mamãe’ a celebridade que as resgatou no Vietnã e no Malauí.

Tais cenários mostram que a adoção têm, em certas circustâncias, um caráter egoísta de satisfação da paternidade. Nestes casos, a criança torna-se uma compensação, onde os candidatos a pais não querem qualquer tipo de ônus, concessão e sacrifício, além dos habituais. A adoção precisa estar livre de qualquer tipo de preconceito. É um ato de amor irrestrito, que não pode estar presa à estereótipos ou condição física.

Não é por menos que entidades e instituições, como o TJRS, têm promovido ações que instigam candidatos à adoção a olhar para o outro lado e contemplar o universo de possibilidades positivas na adoção tardia ou de crianças e jovens especiais. Adotar uma criança é dar a luz à esperança.

Em breve conversa com uma pessoa engajada na causa em Bento Gonçalves, na manha de quarta-feira, ficamos surpresos com o relato sobre o respeito e afeto entregue pelas 21 crianças e jovens que atualmente residem no Albergue Municipal, afastadas de suas famílias de origem. Duas delas, de 12 e 17 anos ainda aguardam por uma chance de mostrar o quão maravilhosas podem ser. Você pode ajudar. O desejo se limita a satisfação, o amor à adoção. Adote, veja além da escolha que impossibilita novas famílias.