Um conchavo digno dos tempos de César e seu Senado. Moldado desde o princípio por mentes perspicazes que adotaram uma estratégia para minimizar o clamor popular, resultando em uma colaboração imprevisível entre os dois lados da balança política. Com desfecho imprevisível, a trama aborda requintes de infidelidade e traição. Dito neste molde, o cenário tragicômico apresentado no plenário municipal na terça-feira, durante a votação de um dos mais impactantes projetos apresentados no plenário até parece a sinopse de um filme mexicano de baixo orçamento. Mas também não passa tão longe disso. O arranjo, revelado aos olhos atentos da comunidade, expôs as artimanhas, fraquezas, desleixos e arrependimento de parlamentares que em tempos difíceis cederam à pressão externa, aliando-se ao até então tido como inimigo, em um ato de desespero na mais pura essência do termo.

A cada manifesto um novo sorriso amarelo em completa desarmonia ao cenário. A cada sentença o titubear de voz de quem sabe que errou e agora precisa argumentar contra sua própria criação. O embaraço protagonizado no coração legislador da cidade, que nos remete às patacoadas promovidas pelos deputados na votação do impeachment, marcou o eleitorado. Impossível extinguir o amargo gosto do fingimento de quem há menos de 60 dias, vendeu ideais e proferiu aos sete ventos alternativas para os clamores populares e depois, como em um passe de mágica, queria que tudo desaparecesse.

O desentendimento foi tanto que nem no momento da votação do projeto havia consenso entre os parlamentares. Entre gestos atrapalhados, que mais pareciam aqueles momentos em que não sabemos exatamente o que fazer e copiamos os movimentos de quem esta ao lado, e olhares perdidos em direção à Mesa Diretora, o futuro dos próximos ocupantes do Legislativo foi determinado. Mas não me entenda mal. A critica não se dá à anulação da moção de redução dos edis, mas sim, a forma como foi executada pelos representantes do povo. O clima durante a votação não era de quem entendia o incômodo que poderia estar causando ou de quem utilizou de uma característica manobra de manipulação para atingir seus resultados particulares. A nítida sensação que se tinha era a mesma que vim acompanhando há quase quatro anos: o apontar de dedos e o semblante de ‘nós vencemos a oposição’.

Pois bem, como em todo o filme de quinta categoria o final pode decepcionar. Os roteiristas nem sempre tem a proficiência necessária para fazer com que a reviravolta da trama não seja um ‘tiro pela culatra’. Da mesma forma, no parlamento, uma manobra tão arriscada que mais pareceu uma afronta ao intelecto da população poderá revelar-se o ponto final na carreira política de alguns nomes. Como dizem por estas bandas, ‘as eleições estão aí’.