Os dados da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) apontam que uma mulher é agredida por dia em Bento Gonçalves. Este é um problema sério e que precisa ser combatido com severidade. O aumento no número de registros mostra um outro lado da questão, que também é muito importante: as mulheres estão perdendo o medo de denunciar.

Na verdade, é difícil quantificar o tamanho do problema da violência contra a mulher. Esse é um terreno em que as estatísticas são, por definição, precárias. Embora a violência contra a mulher possa ocorrer em qualquer classe social, entre as mais pobres os episódios tendem a tornar-se particularmente perversos. Para a mulher de baixa renda, a agressão não se resume à pancada e a suas consequências físicas e psicológicas. Há também o dia de trabalho perdido. Mais ainda, cortes e hematomas não são as únicas sequelas físicas das surras. A mulher que apanha frequentemente padece de outros males, como gastrite, insônia e mal-estar generalizado. Num terrível círculo vicioso, as constantes visitas ao médico redundam em menos dias de trabalho e mais despesas, com remédios, condução etc.

O fenômeno da violência não é novo. Infelizmente, parece também “incurável”. O fato de não ser possível eliminar do mundo as pessoas violentas não impede que poder público e sociedade civil criem mecanismos que permitam à mulher que é vítima do companheiro abandonar o inferno em que se encontra.

Aqui é necessária uma abordagem multidisciplinar, que ofereça amplo atendimento médico, jurídico e de apoio social. A criação das delegacias da mulher foi um passo importante. É preciso, porém, avançar muito mais. É inconcebível que, em pleno século 21, uma mulher seja vítima de violência diariamente em Bento Gonçalves. Essa é uma cifra da Idade da Pedra que deveria causar revolta a qualquer grupamento humano que se diga civilizado.
Já está comprovado que medidas protetivas não resolvem e não intimidam mais o agressor. Felizmente não registramos nenhum homicídio neste ano. Mas os números ainda são altos demais e inaceitáveis em qualquer sociedade civil. As mulheres também não podem se permitir seguirem como vítimas de brutamontes covardes, que veem no espancamento a única alternativa para descontar seus problemas e sua raiva. A coragem para denunciar as agressões já existe. Agora é preciso que elas também tenham coragem de expulsar o agressor de suas casas, de suas vidas. Só assim terão uma vida digna e plena, que tanto merecem.