Ontem tivemos mais um capítulo da disputa entre prefeitura e os comerciantes da área central de Bento Gonçalves. Os dois lados discutem a viabilidade, ou não, das faixas seletivas de ônibus, vans e táxis instaladas nas ruas Barão do Rio Branco e Júlio de Castilhos. Uma queda de braço sem fim que não leva a lugar algum.

Os comerciantes, mais do que lutar por seus interesses, como muitos dizem, buscam o direito de discutir a implantação e serem ouvidos antes que ela seja concretizada. Como a decisão veio de cima para baixo, sem que uma audiência pública ou um levantamento técnico a embasasse, todo este rebuliço foi provocado. Com esta atitude, o poder público perdeu uma ótima oportunidade de democratizar a discussão e ver seus argumentos prevalecerem, já que a intenção é melhorar as coisas para a coletividade.

Faltou algo que hoje está cada vez mais difícil de acontecer entre o setor público e privado: o diálogo. A falta de clareza e posicionamento de ambos os lados fez com que a situação fosse parar na esfera judicial. É certo que tudo estaria resolvido se o amplo debate tivesse sido promovido. Uma apresentação do projeto para os comerciantes da área central como um todo e não apenas para seus representantes, também auxiliaria na resolução deste dilema.

Os comerciantes, por sua vez, mostraram-se irredutíveis e não quiseram aceitar a experiência. Simplesmente se posicionaram contra e fizeram de tudo para que as faixas seletivas não fossem implantadas. Faltou bom senso neste sentido também. Alguns comerciantes ou simpatizantes de suas ideias promoveram o vandalismo de placas de sinalização no primeiro dia de funcionamento do novo sistema, como se isso fosse intimidar ou fazer a prefeitura desistir da ideia. De vítimas, passaram a vilões.

É claro que nenhuma loja vai fechar por causa das faixas seletivas e isso é fato. Porém, a discussão ampla do projeto permitiria uma sintonia fina para que o descontentamento não tomasse as proporções que alcançou hoje.

A situação é tão delicada que nem o Poder Judiciário consegue resolver. Em seu despacho, a juíza suspende a expansão, mas permite a continuação das duas faixas experimentais. Mas, afinal, o projeto da prefeitura está certo ou está errado? Quem vai definir isso? O caso das faixas seletivas está tão complicado quanto o trânsito da nossa Bento Gonçalves. Nem nas pequenas coisas conseguimos avançar, é impressionante. O que está acontecendo com a nossa Bento? Alguém pode responder?