Não são poucos os desafios para que se alcance uma sociedade justa. Eles aparecem na falta de distribuição de renda, nos impostos cobrados de forma desigual e injusta -onde os menos afortunados acabam contribuindo com parcela maior do que os muitos ricos; na falta de moradia digna; na insegurança e no descaso com a saúde pública.
A edição deste sábado gostaria de mostrar só aspectos positivos de uma cidade da qual nos orgulhamos de viver e trabalhar. A verdade encontrada nas esquinas é outra. O mosaico apresentado traz o relato sofrido de Idiole Zanotelli, que sofre e busca reparação em sua saúde há anos. Ela é vítima de uma articulada e inescrupulosa quadrilha que não se importa com a vida alheia, apenas com dinheiro ganho de forma desonesta. Seu calvário, porém, vai adiante, além de sofrer dor e invalidez, ainda lhe recai a humilhação de ver negado o benefício da previdência social, mesmo que os exames e laudos médicos atestem a situação de incapacidade e sofrimento da segurada. Ou seja, além de vítima da ganância, sofre com a insensibilidade de burocratas.

Outros dois vértices da realidade que encontramos nestes primeiros dias de 2015, em Bento Gonçalves, são a situação difícil de ambientação dos imigrantes haitianos ao país que os recebe. E a dificuldade que empresas têm para contratar trabalhadores.

Os haitianos têm um acolhimento pela metade, sem preparação prévia. Será necessário correr atrás do tempo perdido e providenciar meios para que eles se adaptem, com moradia digna, com aprendizado da língua e trabalho regular.

Emprego, aliás, parece não ser o que falta. Mas, é preciso encontrar formas de colocar em sintonia quem precisa do labor e quem oferece a vaga. Aqui há uma equação que não fecha: há gente desempregada e vagas que não são preenchidas. Mais uma vez empresas estão buscando operários em zonas distantes do estado. É gente que vem e precisa alugar residência, matricular filhos nas escolas ou creches. Urge que o poder público faça a mediação destes interesses, minimizando os efeitos sociais de um inchaço populacional que a cidade já experimentou em outras épocas.

Organizar, coordenar, planejar, prevenir, mais do que tarefas, são exigências inescapáveis a governantes, tanto quanto é dever do Estado prevenir e reparar vítimas como dona Idiole, além, é claro, de punir profissionais que brincam com a vida alheia.