A indústria brasileira, há tempos, perde competitividade a olhos vistos. A produção industrial vem caindo desde dezembro, o que representa três meses de queda seguido se comparado ao igual período do ano passado. Para piorar o quadro, a balança comercial brasileira, também vem apresentando queda considerável. Mesmo com estas adversidades, a economia bento-gonçalvense, principalmente no que diz respeito a geração de emprego, não vinha sendo atingida.

Porém, os números do mês de março mostram que há uma preocupação no sentido da empregabilidade em Bento Gonçalves. Ao contrário de fevereiro, quando houve um aumento de 418 postos de trabalho, março registrou crescimento quase zero. Para não dizer que o aumento foi nulo, o mês foi fechado com apenas quatro postos de trabalho abertos. O número de demissões aumentou consideravelmente, praticamente acompanhando as admissões. A situação é, no mínimo, preocupante, principalmente se tratando de uma cidade com um potencial empregatício acima da média, como Bento Gonçalves. Estaria o município do emprego enfrentando uma crise?

Pode ser que o índice apresentado pelo Caged seja um fator isolado, como aconteceu em julho de 2013, quando o mês fechou com saldo negativo de vagas. Também é preciso levar em conta a dificuldade em conseguir mão de obra qualificada, além do final da safra da uva, que acaba sempre provocando um número maior de demissões. Porém, os números apresentados por Bento Gonçalves refletem a realidade no Rio Grande do Sul e também no Brasil. No estado, o crescimento na geração de empregos foi de apenas 0,5%, enquanto no país, foi de 0,03%, praticamente nulo.

Apesar destes números, o governo mantém o otimismo, claro, mas é preciso ter coragem de reconhecer alguns problemas, até mesmo para superá-los. O governo vem promovendo fortes estímulos ao consumo, para o qual oferta crédito farto, onerando os gastos da União com os programas de transferência de renda que vêm mantendo o nível de emprego pressionado, fazendo com que a indústria perca competitividade. O resultado é claro: as importações aumentam, encabeçadas pela aquisição de bens de consumo.

Há outros agravantes para a situação precária da indústria: como o governo não realizou as reformas estruturais eternamente prometidas e muito menos investiu significativamente em infraestrutura, a produção industrial esbarra no muro do “Custo Brasil”, um beco para o qual não encontra saída. O cenário piora ainda mais se incluirmos outras variáveis na equação, tais como a alta carga tributária, a burocracia e a mão de obra pouco qualificada, três problemas essenciais na agenda dos empreendedores que, se não solucionados, impedirão a criação de novos negócios e a expansão dos já existentes.

Para fechar o quadro, temos uma taxa de juros básica que não para de subir e uma inflação que, mesmo maquiada pela criatividade governista, insiste em bater no teto do centro da meta, corroendo salários e prejudicando justamente a parcela mais pobre da população. É preciso atentar para essas e outras questões se quisermos fazer com que a nossa indústria tenha mais do que voos de galinha.