A crise econômica nacional, que até meados do último ano era tratada como um murmuro longínquo e insignificante, ganhou proporções inimagináveis no cenário financeiro do país. Como em um jogo de espelhos, onde reflexos podem deturpar a percepção do espectador, a reverberação de medidas aplicadas de forma errônea e irresponsável pelo Governo Central, alcunhadas amistosamente como pedaladas, além do emprego de políticas fiscais ineficazes, que mais parecem remendos módicos em um sistema severamente danificado, afetaram diretamente os setores da indústria e comércio.

Sem sobressalto, os efeitos de tais deslizes se tornaram notórios em elementos até então considerados os pilares da economia municipal, como os polos moveleiro e metalúrgico. Como era de se esperar, as consequências de tamanhas falhas seriam sentidas de forma pungente na base do mercado de trabalho, o empregado. O número de desempregados cresceu significativamente em Bento Gonçalves entre o segundo semestre de 2015 e o início deste ano. Com a redução do quadro de funcionários, as empresas mantiveram apenas o essencial na tentativa de “sobreviverem” ao penoso período. Pois bem, a economia não reaqueceu.

Com a escassez de incentivos federais para a retomada empresarial, após o fantasma das demissões em massa, um novo elemento começou a assombrar os corredores já deserto das empresas nacionais, a possibilidade de falência. O número de pedidos de Recuperação Judicial atingiu patamares nunca antes registrados. De forma mediata, o Estado e o município também apresentaram crescimento na abertura da ação. Em Bento Gonçalves, ao menos três empresas de grande porte recorreram a medida a fim de evitar o fechamento das portas. Como agravante, o cenário de incertezas políticas onde centenas de camaristas são investigados e até ex-presidente recebe mandado de prisão, não contribui para o retorno dos investimentos.

Diante de tais fatos, manter-se positivo e acreditar que a crise se erradicará neste ano é um ato perigoso, quase utópico, entretanto, é tudo o que nos resta.