Mesmo que os bento-gonçalvenses apontem em qualquer pesquisa que o medo de ser assaltado é a sua principal preocupação e, por consequência, deveria ser também a prioridade do governo, não é assim que a realidade se apresenta. Caso contrário não estaria a nossa segurança pública defasada em pessoal, equipamentos e instalações. E não se diga que a culpa é somente do atual governo. A crise institucional de nossas organizações policiais (Brigada Militar, Polícia Civil, Instituto-Geral de Perícias e Susepe) arrasta-se por muitos governos que sempre trataram essas instituições com remendos salariais e improvisações materiais.

Enquanto a Polícia Civil tinha seu efetivo total na região diminuído, o crime – que não depende de concurso público nem de ‘’vontade política” – naturalmente se desenvolveu. Pode-se argumentar que a Polícia Civil teve um ganho de eficiência e produtividade neste período. Aliás, é bem possível que isso tenha ocorrido, já que os recursos tecnológicos incorporados ao trabalho da Polícia Científica, para auxiliar a Civil na elucidação de crimes, tiveram um desenvolvimento expressivo nos últimos anos. Mas nem toda a tecnologia poderia compensar a falta de policiais. Não inventaram, ainda, uma máquina capaz de solucionar crimes. O trabalho investigativo, assim como suas consequências, ou seja, o refreamento dos atos ilícitos e a punição aos criminosos depende do elemento humano para colher depoimentos, obter provas, analisar indícios e evidências.

Talvez (e não vai nessa hipótese nenhuma leviandade, pois há uma relação direta entre a eficiência policial e o ritmo de proliferação do crime) a retração do contingente da Polícia Civil possa explicar alguns aspectos da criminalidade atual, como a capilaridade crescente do tráfico de drogas e a dificuldade de desarticular o crime organizado. A falta de investimento nas frentes de investigação pode ajudar a entender por que tantas crianças e adolescentes, responsáveis pela venda de drogas no varejo, são apreendidos todos os dias, enquanto seus empregadores, os verdadeiros traficantes, que negociam no atacado, só são pegos eventualmente. Também não deve ser por acaso que os roubos a estabelecimentos comerciais têm acontecido, em sua maioria, no horário entre as 18h e 19h, momento de fragilidade da segurança pública nas ruas.

Mesmo com o apoio da prefeitura, os estagiários e funcionários cedidos pelo município não são policiais e não podem atuar nas ruas de Bento Gonçalves. Pela escassez de material humano, a Polícia Civil hoje tem que escolher quais os crimes que serão investigados. Não há como atender todas as ocorrências existentes, nem que os policiais quisessem fazê-lo.
Bento Gonçalves tem pelo menos quatro delegacias, porém nenhuma delas com efetivo completo ou, pelo menos, com aquele considerado ideal para o combate ao crime de forma mais ágil e dinâmica. Porém, esta situação caótica não deve mudar, pelo menos no curto prazo