Não se pode dizer que a revelação feita esta semana por engenheiros do Daer acerca de um dos principais cartões postais da região e do Rio Grande do Sul seja uma completa surpresa. O avançado estado de deterioração da ponte Ernesto Dorneles, sobre o Rio das Antas, é mais um retrato de como vêm sendo tratadas as estradas do estado mais meridional do Brasil.

Não é novidade para ninguém que o povo gaúcho tem sofrido com a falta de prestação de serviços adequados e que a infraestrutura tão essencial ao crescimento, está sucateada. Falta manutenção e não se investe em novas estruturas simplesmente por que não há dinheiro para tanto. Mas há um fato simbólico nisto tudo. Ainda na quinta-feira, 15, antes de vir a Bento Gonçalves para a solenidade de abertura da safra, o governador José Ivo Sartori anunciou o aumento nos vencimentos do Judiciário, Ministério Público, dos deputados, secretários e do próprio governador.

O maior reajuste, de 64,2%, será concedido aos secretários estaduais e ao vice-governador, que passam de R$ 11.564,76 para R$ 18.991,69. Para o governador, o aumento do subsídio foi de 45,9%, passando de R$ 17.347,14 para R$ 25.322,25. O salário dos deputados será reajustado em 26,3%: de R$ 20.042,34 para R$ 25.322,25.
Estaria tudo bem se as contas do Estado estivessem em dia. Não estão. Se a prestação de serviços fosse boa. Não é. Depreende-se daí que a preocupação com as finanças do Estado, cujo déficit anunciado para este ano será de R$ 7,1 bilhões exigirá sacrifícios de muitos, mas não de uma elite.

Voltando à ponte dos Arcos. Ela é apenas um dos pontos de estrangulamento no caminho entre Bento Gonçalves e uma importante região do estado. Sabe-se há muitos anos que diante do tombamento de um caminhão, de um acidente mais sério ou mesmo de deslizamentos, não há uma rota alternativa decente.

O intenso tráfego de caminhões pesados pela 470 também é empecilho a quem deseja um deslocamento medianamente rápido entre Bento e Veranópolis. Então, o que incomoda mesmo é constatar que cada vez mais pardais e radares móveis estão a serviço de punir e arrecadar em estradas onde até seria possível aumentar a velocidade média. Nada é feito onde a velocidade é reduzida devido às condições de trafegabilidade.
Nem mesmo o discurso de que é preciso multar para educar está colando. Sabe-se que o objetivo maior é arrecadar e estes recursos não são destinados para melhorar a vida dos motoristas.