O racismo é, por qualquer ângulo que se analise, uma chaga a ser combatida. No plano ético, há poucos comportamentos mais perniciosos do que qualificar alguém em função de um estereótipo vazio, como a cor da pele ou a ascendência étnica, e, a partir daí, julgar o indivíduo, como se tudo o que ele possa fazer, pensar e sentir já estivesse predeterminado por esse único traço. Existem ocasiões em que o ato racista, dito cordial, deixa de sê-lo. Perde a compostura, a invisibilidade e se mostra em toda sua crueza. Abandona seu status de coisa anônima praticada por terceiros, ganha um rosto e uma assinatura.

Recentemente, o Brasil viu multiplicarem-se ações ligadas à prática do racismo nos últimos dias. Desde ofensas dirigidas por torcedores adversários ao jogador Tinga, do Cruzeiro, em jogo realizado no Peru, até a notícia de que em Fernandópolis uma mulher foi condenada a pagar indenização a outra a quem ofendeu usando termos racistas, o assunto ocupou as páginas da imprensa e também as redes sociais. Tinga recebeu grande solidariedade dos brasileiros, especialmente por ter sido ofendido no exterior, mas também pela declaração que deu após a partida, em que disse que trocaria seus títulos pelo fim de todo tipo de hostilização por motivos étnicos.

Porém, nem isso foi suficiente para que, alguns dias depois, o árbitro Márcio Chagas da Silva sofresse com mais um ato racista, vergonhoso em todos os sentidos. Além dos xingamentos desde o início da partida, o homem do apito teve bananas deixadas em seu automóvel. A covardia de quem cometeu este ato é maior do que aqueles que gritavam nas arquibancadas.
Infelizmente, todos nós carregamos em nosso interior algum tipo de preconceito. Quem nunca usou uma expressão do tipo: “aquele gordo”, “este viado”, ou “aquele nanico”. Somos os primeiros a levantar a bandeira contra o racismo e qualquer outro tipo de preconceito, mas, nós somos os primeiros a cometê-los logo ali na frente.