A Guerra dos Seis Dias, na essência do termo, foi o conflito armado que envolveu Israel, Síria, Egito, Jordânia e Iraque. Ocorreu entre 5 e 10 de junho de 1967, e foi a mais consistente resposta árabe à fundação do Estado de Israel, apesar do estado sionista ter saído como grande vencedor. Mas a guerra dos seis dias também existe na Capital do Vinho, porém, nessa, não existem lados vencedores. A cada seis dias uma mulher tem corpo e mente violados. A cada seis dias as estatísticas aumentam. A cada seis dias o ódio entre gêneros cresce. A cada seis dias, a sociedade dá um novo passo em direção à misantropia.

Mas por que quando um estupro acontece, a primeira coisa que se passa pela cabeça das pessoas é questionar se a vítima está, de fato, dizendo a verdade? Certamente não é o que ocorre com outros crimes, a não ser que você duvide toda vez que alguém afirma ter sido vítima de um assalto ou roubo. A resposta nos remete a um problema cultural e cada vez mais notório. Ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, que tende a considerar as mulheres como ‘segunda categoria’. Não proponho aqui o hastear de bandeiras a ideologias batidas que objetivam mais a angariação de ‘curtidas’ em mídias sociais com frases clichês e ataques sexistas ou a incorporação de ‘ismos’ que em grande parte das vezes, mal sabem ao que estão tutelando, mas sim, o travar da verdadeira guerra.
Uma batalha contra a cultura misógina, contra o domínio de gênero. Uma batalha pelo fim do preconceito. O combate contra o medo à denúncia, uma luta contra o abuso. Examinando o que em geral apresentamos às nossas crianças na televisão, no rádio, no cinema, nos jornais, nas revistas, nas histórias em quadrinhos e em muitos livros, poderíamos facilmente concluir que fazemos questão de lhes ensinar assassinatos, estupros, crueldades, superstições, credulidade e consumismo. Continuamos a seguir esse padrão e, pelas constantes repetições, muitas das crianças acabam aprendendo essas coisas. Que tipo de sociedade não poderíamos criar se, em vez disso, lhes incutíssemos a ciência e um sentimento de esperança? Não poderia ser este o princípio da recuperação cultural e social e o prólogo do pedido de perdão por séculos de arbitrariedade masculina?

Como disse Kurt Cobain, “o problema dos grupos que lidam com o estupro é que eles tentam ensinar às mulheres como se defender, enquanto o que realmente precisa ser feito é ensinar aos homens a não estuprar”. Ao invés de discutirmos o problema, precisamos buscar soluções. Penalizações mais rígidas em casos confirmados? Liberação do porte de armas? Pena de morte? Não compartilho com tais posturas. Creio que a resposta para o problema possa ser mais simples e de fácil emprego que uma alteração sistemática, como apenas a utilização de políticas públicas para fomento e conscientização de massas.