Era um sábado, e o mais novo point da night estava lotado de gente solteira. Duas gatonas nem tão jovens, mas muito bem “estruturadas”, com metros de pernas e cabelos, acomodaram-se numa mesa enquanto passavam os olhos pela galera.

-Opa! Olhaí! – sussurrou uma delas contraindo as vogais e apontando para a mesa ao lado.
-Que belo espécime! E desacompanhado. Isso promete… – respondeu a outra sorrindo.

Na brincadeira – ou não – começaram a paquerar aquele deus grego, mas o cara estava muito ocupado admirando a si próprio.

Elas passaram a vigiá-lo. Ele abriu o primeiro botão da camisa justa deixando à mostra os músculos peitorais, e bateu uma selfie.

Levantou o copo com a mão esquerda, acompanhando com o olhar os bíceps e tríceps, e bateu outra selfie.

Ajeitou a franja desconexa e repicada do cabelo estilo undercut, e nova selfie.
Olhou para cima como se estivesse diante da Torre Eiffel, e selfie.
Olhou para baixo como se o mundo estivesse a seus pés, e selfie.
Mirou no espumante, e selfie.
Sorriu um sorriso cheio de dentes perfilados e alvíssimos, e selfie.
Exibiu o dragão tatuado no ombro, e selfie.
Lançou um olhar comprido para a câmera do celular, e selfie.
Arqueou a sobrancelha, e selfie.
E selfie. Selfie. Selfie…

As gatas, que eram cultas, charmosas, descoladas, coisa e tal, ficaram indignadas. Elas dando sopa a um metro e meio da mesa dele, e o babaca na maior orgia narcísica. O que estava acontecendo com os homens?

Sem resposta aos questionamentos hedonísticos, “pegaram a viola, botaram na sacola e foram viajar”, cientes de que elas mesma teriam de pagar a conta na saída.

Para que o dia 08 não passe em branco, um trechinho do mais lindo poema que já li sobre a mulher. De Elisa Lucinda, “Aviso da Lua que Menstrua”:

“Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua…
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Cuidado…”