Italianos são hilários. Mesmo em situações periclitantes, eles não perdem o bom-humor. Foi o que aconteceu com um certo senhor lá de… logo aí atrás do Monte. Que é muito Belo, por sinal.

Então nosso personagem adorava passear com a Vanderleia pela cidadezinha e adjacências. Embora já velha e sem pintura, com um gingado lento, ela tinha seus encantos. Isso deixava o homem envaidecido, pois não havia no mercado outra, da mesma idade, tão ligada. E a Vanderleia era só dele. Ninguém punha as mãos no “guidom” dela.

Num domingo à tarde, como era de costume, o homem foi pra bodega jogar com a turma do baralho… e da branquinha. Entre uma partida e outra, a pinga era servida. Quando a noite chegou, o gringo estava mais pra lá do que pra cá, mas ainda assim ouviu a voz da “consciência”, que dizia: “Se tu chegar tarde, em casa, vou te dar com a mêscola da polenta na squena” (nas costas). Olhando para o relógio de bolso, ele gaguejou:

-Zio Pórco! Me me dóna me copa! (Minha mulher me mata).

E zarpou com sua Vandeleia, que roncava pelo caminho de volta que nem búfalo brabo.

Ziguezagueando, ele passou pelo cemitério, rodou, atolou, derrapou, virou à direita, depois, à esquerda, seguiu e enfim chegou, mas não parou. Foi direto para o escurinho da garagem com ela, que estava mais quente do que nunca.

Então aconteceu. O cara, que não conseguia controlar seus instintos mais primitivos, também não foi capaz de tirar o pé do acelerador da Vanderleia, e “bum”! Os fundos da garagem voaram.

A esposa acordou assustada com o impacto que fez a casa tremer. Teria iniciado a terceira guerra mundial? Seria um foguete do tal de TRUMPalhão, que se desviara da rota, ou a resposta do vampiro russo?

Apreensiva, levantou-se e, de camisola mesmo, estilo “vintage”, juntou-se a alguns curiosos da vizinhança, que não conseguiam segurar o riso.

-Fiol dum cán! – esbravejou a mulher, quando viu o homem encolhido no assento da “concubina”, embaixo do parreiral.

-Tu devia me dar os parabéns, porque eu entrei direito sem bater nos lados… E “nó rabiarte” (e não ficar braba) – respondeu ele.

-Sú de li (levanta-se) e olha se tua sucata não estragou nada – completou ela, preocupada com os danos materiais.

Felizmente, nem um arranhãozinho na lataria de chapa de aço. Na verdade, Vanderleia era uma Ford Rural Willys, 1963, capaz de resistir ainda a muitas bebedeiras de seu dono.