Texto de Gabriela Boesel
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Essa foi a primeira impressão que tive quando deixei minha casa em São Leopoldo, no Vale dos Sinos, e me mudei para Bento Gonçalves. A pequena oscilação de temperatura, não mais do que três ou quatro graus, faz uma diferença enorme na sensação térmica. E essa mudança me obrigou a adotar alguns hábitos que antes eu não tinha. Gorro, luvas, polaina e meia térmica passaram a fazer parte do guarda-roupa e do meu dia a dia. Mas passar frio na Serra Gaúcha tem outro charme, afinal a Serra foi feita para passar frio, não é? No inverno, turistas e mais turistas do Brasil inteiro deixam suas cidades para buscar no local as belezas e os prazeres do inverno. Na verdade, sempre me senti privilegiada por morar perto. E agora que moro na própria Serra, nem se fala.

A neblina, pelo menos por enquanto, foi figura presente nos meus primeiros dias em Bento. No maior estilo “clima londrino”, os cenários da pequena cidade ganham um toque a mais com o fog que encobre casas, ruas e gramados e que, em algumas ocasiões, não permite que a nossa visibilidade atinja mais do que 15 metros de distância. Às vezes, ela nos acompanha somente pela manhã. Tem dias que ela cai no meio da tarde, de mansinho, e quando vemos já está lá. E tem vezes que passa o dia inteiro com a gente. Mas quem liga? Afinal, estamos na Serra!

Deixar a família, os amigos e o namorado também foi tarefa difícil. Todo mundo sabe que chega uma hora que saímos de casa, alçamos voo e nos mandamos. Mas essa mudança talvez não seja tão simples como eu imaginava. Sempre planejei morar sozinha e ter minha independência, mas nunca pensei que fosse acontecer de maneira tão rápida. Na verdade, essa decisão foi tomada tão rapidamente que mal deu tempo de pensar muito a respeito. Se bem que eu carrego comigo aquela máxima: “não pensa muito que dói”. Então quando surgiu a oportunidade, lá estava eu de malas prontas.

O mais interessante, honestamente, foi a escolha da cidade. Normalmente as pessoas deixam os municípios do interior e rumam para a Capital. Eu não. Eu saí de uma cidade do interior – região metropolitana, é verdade, mas mesmo assim interior – e me mandei para um lugar mais no interior. Só que não é qualquer interior, é Bento Gonçalves! É na Serra Gaúcha! Agora estou vivendo em um lugar que outras pessoas – meus amigos, minha família – procuram para passar os feriados, finais de semana, ou mesmo um dia de domingo. Será que, para mim, a cidade vai perder o seu encanto turístico? Espero que não.

Lembro de Bento dos passeios de turismo, da Maria Fumaça, dos Caminhos de Pedra, do Vale dos Vinhedos, dos parreirais. Do vinho, das vinícolas, do frio e da típica gastronomia italiana. Ah, a gastronomia. Quem resiste às deliciosas massas, queijos, molhos, polenta! Dio Santo! Aqui a palavra dieta só cabe se for em “dieta de engorda”. O jeito é não resistir e se entregar às tentações dessa culinária que faz parte da nossa tradição gaúcha. E que Baco seja louvado! Vinhos e mais vinhos compõem a mesa com uma delicadeza que seria um sacrilégio não desfrutar dessa delícia.

Ainda não tive muito tempo para me familiarizar com todas as opções de Bento. Faz pouco tempo que mudei. Por enquanto minha preocupação é conhecer a região onde estou morando e o nome das ruas. Essa mudança me fez lembrar do meu intercâmbio, quando mudei para a pacata e belíssima San Sebastián no País Basco, na Espanha. Uma cidade que eu não conhecia, com pessoas que eu não conhecia, mas que depois de algumas semanas me conquistou e hoje levo no pensamento e no coração para toda vida. Tomara que com Bento seja igual. Me conforta saber que a receptividade aqui é ponto forte. Aliás, obrigada, colegas!

Mas o que mais me encantou foi a harmonia do local. Bento Gonçalves faz jus ao título de “destino turístico”. Quem visita o município é recebido por uma cidade organizada, limpa, com amplas áreas verdes e canteiros floridos. Um charme colorido que contrasta com os tons de cinza do inverno, trazendo cor e ânimo para os dias frios. E que frio! Mas quem liga? Afinal, estamos na Serra!