Os almoços de domingo são pródigos em histórias. Reais, na maioria das vezes. As mais empolgantes envolvem “coisas do outro mundo” que, na verdade, acontecem por aqui mesmo. O pessoal fica com um olhão deste tamanho, quase saindo da cabeça! Cada susto…

É lógico que sempre tem quem corte o barato da gente, dizendo que é tudo bobagem, produto da imaginação, coisa de mente fraca. Acho que, no fundo, é medo…

Nesse domingo que passou, demos um giro pelo Rio das Antas, numa pescaria que aconteceu há um tempinho…

O pescador, um cara cheio de brios, planejou o evento para o feriado de finados. O sujeito dirigiu sua camionete em ziguezague, rampa a baixo, até onde a estrada se afunilava. Daí em diante, se aventurou pela trilha, levando nas costas a tralha, que incluía varas, molinetes, linhas, iscas para todo o tipo de peixe – massinha, minhocas, milho e umas coisas vivas e viscosas para os dourados. Ah! E como todo bom pescador se abastecera de pão, salame e cerveja.

Assim que chegou ao lugar ideal, começou a operação “bota isca”. Um anzol pronto, passava para outro e assim por diante. Depois era só jogar no rio.

E as horas foram se arrastando… que nem alguns répteis entre as moitas. “Grande porcaria”, pensava o valentão, cuidando para não pisar em falso no chão forrado de folhas. “Encaro até sucuri. Dou uma gravata nela”.

A pescaria estava razoável. Nenhum dourado, mas muitos jundiás e lambaris. Carás e joaninhas ele jogava de volta.

O sol já sumira no horizonte e uma aragem gostosa estava vindo na garupa da noite, animando o pescador, que não queria voltar sem um peixe digno de uma bela fotografia.

Então foi se desprendendo do rio uma espécie de neblina que engolia as formas… De repente ele se viu no meio daquela nuvem silenciosa e começou a ficar incomodado. O jeito era voltar, até porque a lanterna só produzia um facho de luz bastante tímido…

Estava recolhendo o material de pesca, quando um ruído atrás dele quase o derrubou na água. Refeito, ele ligou as antenas… e o som espectral voltou a se repetir: “FLAP, FLAP, FLAP” . Olhando de esguelha, o pescador vislumbrou uma sombra fantasmagórica pronta para atacá-lo. A resposta foi imediata: pernas pra que te quero, mas na picada oposta, três vezes mais longa do que a outra.

Chegou em casa sujo, arranhado, destruído… Mais morto do que vivo. Justo ele que sempre dissera temer os vivos, não os mortos.

No dia seguinte, viu-se obrigado a retornar por causa da camionete. Inflando o peito de coragem, seguiu até o local do fenômeno metafísico. E, então… “FLAP, FLAP, FLAP…”

Embora assustado, o cara não saiu correndo, afinal, de dia, as coisas não parecem tão macabras. Ofegante, o homem limpou os olhos e aí vislumbrou a pobre alma. Uma pombinha presa num anzol com isca de milho, se debatendo…