Então decidi: dieta já! Nada de esperar o ano que vem para cumprir promessa de fim de ano que nem chega até a Páscoa, porque é abatida pelos panetones, que estão na linha de frente dos supermercados. Nem começar na segunda-feira, num pacote redondinho… Foi na quarta mesmo, já quebrando os paradigmas.

Sete horas da matina. Café com leite desnatado, uma lâmina de geleia sem açúcar numa fatia de pão integral e frutas frescas… saídas da geladeira. Tudo natureba, saudando o Novo Dia e a Mãe Terra com uma Ode alimentar.
Dez horas. Um iogurte, que, além de ser ótimo para o sistema imunológico, fonte de cálcio de proteínas e saciar a fome, ajuda na liberação do “trânsito na hora do rush”.

Meio-dia. Um filé ao sugo, em cuja etiqueta estava escrito “rico em licopeno”, um grande antioxidante que evita o processo de degeneração celular, ajuda a reduzir o colesterol ruim e prevenir o câncer de próstata. Ressalte-se que não foi este último quesito a influenciar minha decisão.

Para completar a refeição, salada mista com um molho à base de iogurte e queijo cottage e uma fatiazinha de pão integral. De sobremesa, uma frutinha insossa chamada physalis, que custa o olho da cara, mas que dá um “up” nos neurônios.
No meio da tarde, repeti o lanche da manhã e no jantar, juntei as sobras do almoço. Nos intervalos, muita água mineral.
Feliz da vida por ter passado o dia sem nenhuma escapadela ao território proibido, resolvi contabilizar os gastos – quanto menos gosto tem o alimento, maior é o custo. Mas aí me ocorreu de analisar os componentes de cada produto consumido. Embora tivesse uma ideia da coisa, o resultado final foi surpreendente. Fiquei em choque que nem o mundo ficou com a vitória de Trump para a Casa Branca.

Durante a manhã e à tarde, ingeri muito açúcar, ácido fumárico e citrato de sódio, fosfato tricálcico e dióxido de silício, aspartame e acessulfame-k, tatrazzina e azul brilhante. Espessantes, goma alfarroba e goma xantana, sorbato de potássio, aromatizante, acidulante ácido cítrico, corantes artificiais ponceu e bordeaux. E herbicidas, pesticidas, hormônios, antibióticos e adubos químicos.

Ao meio-dia e à noite, devorei o maior vilão de todos os tempos, o tal “glutamato monossódico”, um realçador de sabor que danifica o sistema nervoso, levando os neurônios a um estado de exaustão. Além disso, acumulei mais cloreto de sódio, dióxido de silício, carragena, goma xantana e goma guar, tudo junto misturado com o conservante sorbato de potássio. Também bebi muito sal misturado ao H2O.

Minha motivação inicial despencou do mesmo jeito que as bolsas da Ásia. Já não sei se consigo realizar meu sonho de consumo – virar uma Gisele Bündchen da melhor idade – assim como o Planeta não sabe se Donald vai manter suas ameaças hiperbólicas – erguer muros e eliminar pontes. A ameaça paira sobre nós. O jeito é dar um tempo…