O luto representa um processo que naturalmente acontece quando a pessoa vivencia uma perda, seja ela real ou simbólica. Não há como atravessar uma importante mudança na vida sem sentir determinado grau de desconforto. Qualquer que seja a mudança, gerará, como efeito, uma necessidade de reacomodação e novas aprendizagens e, por este mesmo motivo, esforços custosos para fazer diferente. A experiência do luto, neste contexto de transformações exigentes, compõe uma série de reações esperadas, que abrange diversos aspectos, sendo eles: físico, emocional, cognitivo, social, espiritual. Por mais que seja doloroso atravessar uma partida, o enlutamento trata de um movimento importante para a elaboração das perdas ao longo de um tempo individual. Diante desta condição, existem fatores que se estendem da particularidade do luto para uma esfera que precisa ser vislumbrada a nível coletivo. Neste contexto, trataremos de alguns fatores facilitadores que podem ser considerados na elaboração do processo de luto, no que tange ao viés preventivo.

É preciso respeitar os momentos iniciais, que compreendem o choque e torpor como sentimentos atrelados ao recebimento da notícia de uma perda ao enlutado. Se o ser humano está vivendo sua estabilidade e, repentinamente, vê-se diante de uma condição ameaçadora, é comum que o seu senso de realidade precise de um tempo considerável para absorver a intensidade do impacto da notícia. Por isso, é importante lembrar que cada pessoa terá o seu tempo individual para encarar a realidade da perda, até porque o luto traz uma avalanche de emoções que podem ser despertadas sob forma de medo, tristeza, raiva, alívio, revolta, culpa, ansiedade, impotência, etc. Mesmo em uma mesma família existem representações e tempos de luto diferentes. Por isso, dentro de um tempo que é particular, cada pessoa encontra o seu modo de expressar-se frente às mudanças que lhe foram impostas.

Diferente do que o social costuma pensar, é importante que a pessoa chore a sua dor. Contudo, isso não significa que o choro é a única forma de demonstrar pesar. O luto constitui uma experiência altamente dolorosa e ninguém está apto a escolher não sofrer. É importante que cada pessoa encontre uma maneira de expressar o que está sentindo. Portanto, inibir, adiar, tentar evitar lembranças do evento ocorrido são aspectos que não contribuem no processo de elaboração das perdas. O mesmo vale para alguém que, na tentativa de ajudar, orienta que a pessoa enlutada pare de chorar ou que saia logo do seu luto. O bloqueio de emoções normativas e esperadas do enlutamento pode provocar sintomas que terão consequências negativas em momento posterior.

Naturalmente, estar enlutado não significa ficar triste o tempo todo. É fundamental buscar formas de consolar a dor, dar um tempo para si mesmo, encontra-se com pessoas que efetivamente possam fazer bem e distrair do sofrimento. É possível encontrar um sentido para a perda, pois é preciso continuar vivendo.