Uma vez que o amor é aprendido e construído entre os pares a partir de um amplo investimento afetivo, uma das características mais marcantes que se observa quando os laços formados se rompem por diferentes circunstâncias é, naturalmente, a resistência a mudanças. Dentre outras expressões, insegurança atrelada ao novo é também uma reação comum que expressa o quão difícil se fazem as readaptações impostas, sobretudo no início. Os sentimentos e emoções ambivalentes e, muitas vezes, confusos, fazem parte de um novo processo de que inicia quando o rompimento se efetiva. O luto é fruto do vínculo, do amor construído e rompido pela separação. Constitui uma perda. É a parte controversa do afeto que, por algum tempo, revitalizou a relação e que modificou, exigindo esforços para uma nova forma de organização.

Na separação amorosa, as emoções de enlutamento surgem a partir da ruptura de uma homeostase, daquilo que era conhecido e gerava sensações de estabilidade e continuidade. O distanciamento, por sua vez, força o teste da realidade quando expõe a desconstrução dos planos, a fragmentação da dupla na relação. Refletir sobre a dinamicidade dos relacionamentos, tanto da formação destes quanto das rupturas, possibilita meios de reconhecer os desafios e, o mais importante, validar os términos como experiências que são potencialmente dolorosas e que causam sofrimento, sem associar as emoções aos valores sociais que tratam sobre “ser forte” ou “ser fraco”. Se estamos falando sobre toda uma organização que cada indivíduo faz para poder se relacionar com o outro, é também fundamental que a dor tenha autorização quando uma separação acontece. Afinal, parte de quem somos é construída também pelo outro que nos olha e nos reconhece. Quando da perda, é também parte de si mesmo que precisa reavaliar uma série de construções reais e representativas. A dor de perder está atrelada à dor de mudar o meu olhar sobre mim mesmo, o olhar do outro sobre mim, o meu olhar sobre o outro e o olhar social sobre o “nós”.

As separações geram, muitas vezes, aflição, angústia, sensação de confusão e estranheza, em razão de estarem relacionadas às perdas reais e simbólicas. Diante das desconstruções e mudanças que estas perdas impõem, utilizar-se de ferramentas da vida disponíveis promove meios para reflexão e também para a reconstrução da vida de uma forma diferente ao longo de um tempo que é individual. É preciso, sobretudo, trabalhar com as emoções que surgem devido à separação, levando em conta o que a relação representava/representa, os vínculos estendidos, a construção de estratégias seguras e estáveis diante de uma crise e a reconstrução da vida partindo de uma nova perspectiva de ampliar-se para o reinvestimento em si e no outro, não desconsiderando as lembranças do passado, que um dia foram ou continuam sendo importantes.