O aconselhamento psicológico em situações de luto constitui um modelo de intervenção psicológica essencial no auxílio aos enlutados, pois facilita a passagem pelo processo de luto por meio do manejo com as perdas. Visa o estabelecimento de condições de vida saudáveis ao enlutado, ao considerar seus próprios recursos e estratégias de enfrentamento da dor, além da retomada de uma rede de apoio familiar e social. Busca o reconhecimento da nova realidade para a readaptação da vida e conforto diante dos diferentes momentos do luto num período de tempo benéfico ao enlutado. Também assume caráter preventivo frente à possibilidade de complicações maiores advindas desta experiência. Trata-se, sobretudo, de amparar e impulsionar o enlutado para caminhos seguros, a fim de que seja possível reinvestir suas emoções na vida e no viver, mesmo na ausência da pessoa perdida.

O aconselhamento funciona como reforçador para a concretização da perda, suporte ao enlutado no que se refere ao sofrimento emocional, facilitador no atravessamento dos desafios impostos pelos reajustas pós-perda e promotor das reflexões do enlutado, a fim de que possam ser encontradas maneiras saudáveis de manter o vínculo com a pessoa querida e, ao mesmo tempo, sentir-se confortável para reinvestir na vida.
Diante da perda sofrida, o enlutado precisa de um espaço que lhe possibilite falar sobre o seu pesar e a experiência vivenciada pela morte da pessoa amada, sobre como foi o funeral, as lembranças deste evento e as memórias em vida. O profissional que acolhe esta demanda deve ser continente e permitir que o enlutado sinta que suas expressões de dor estejam sendo escutadas e aceitas. O aconselhamento psicológico difere de um “conselho” de senso comum, pois está livre de julgamentos relacionados à experiência individual, mas são trabalhadas questões particulares por meio de uma compreensão e ressignificação da dor.

O aconselhamento psicológico em situações de luto é fundamental no que tange ao asseguramento de novos caminhos para que o enlutado possa fechar questões que, eventualmente, ficaram inacabadas com a pessoa amada e finalmente se sinta preparado para dizer adeus à dor e dar boas vindas à saudade e às lembranças. Assim também, que possa aumentar sua percepção quanto à nova realidade e, a partir daí, potencializar capacidades de enfrentamento do seu luto, possibilitando a expressão e administração das emoções e afetos. Por meio de uma nova organização frente à perda, o enlutado pode construir maneiras de ajustar-se às diferentes etapas da vida, atravessando os obstáculos impostos; bem como estimular e autorizar a si mesmo a sentir-se confortável para tornar a reinvestir no viver e em relacionamentos posteriores.

Franciele Sassi – Psicóloga Especialista em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto e Perdas
CRP 07/24082